Admira-se a justiça capitalista! Quando um proprietário de terras [... é] expropriado [...] não se contenta apenas em receber uma indenização integral [...] é preciso que ele seja consolado [...] com um lucro substancial. O trabalhador, quanto a ele, é jogado na rua com mulher, trastes e filhos” (O Capital, I, XXIX.).
Ou aquele outro "rapaz", chamado de Hegel pelas sumidades do MP de São Paulo:“Para o burguês, a lei é sagrada, aí está sua obra, votada com seu acordo para sua proteção e vantagem [...] A lei é para [o operário] uma chibata feita pelo burguês à sua intenção”. (Engels, Situação da Calsse Trabalhadora na Inglaterra).
Mas que, ao menos, lhe tenha ficado Rousseau:As leis criaram novos empecilhos aos pobres e deram novas forças aos ricos [...] Elas fizeram de uma hábil usurpação, um direito irrevogável. E, para o proveito de alguns ambiciosos, subjugaram, a partir de então, todo o gênero humano à servidão e à miséria (Discurso sobre a origem da desigualdade)
Ainda assim, não há um de nós, na esquerda, que pregue a sua ruptura, porque boas regras, mesmo declaratórias apenas, são melhores que as más e, mais ainda, do que regra alguma. Convenhamos, para julgar segundo a letra estrita da lei, bastariam rábulas, com barbaças ou não a lhe emprestarem erudição. Portanto, quando o senhor diz que ""quem não é criminoso enfrenta com dignidade o devido processo legal, exercendo o direito de provar não ter sido agente de comportamento delituoso", não só está se desgrudando da realidade como, na prática, obrigando-me a desafiar, com meu único semestre de Direito cursado na UERJ, antepor-me à sua vasta sabedoria jurídica. Refiro-me à presunção da inocência, princípio universal. Ninguém tem que provar " não ter sido agente de comportamento delituoso". É o contrário. É o acusador, seja mesmo um acusador político, como o é no impeachment, que tem de provar que o foi. Mesmo neste processo, iniciado por Eduardo Cunha, homem que não lhe merece uma palavra sopesando sua suspeição, precisa existir a formação de culpa. Não é "eu quero cassar a presidenta e isso tem maioria aqui". Do contrário, estaríamos no parlamentarismo, onde basta a perda da maioria para a derrocada de um governo - aliás também instituído no parlamento, donde a legitimidade para que o parlamento o destitua sem amarras. O senhor, porém, ultrapassa este absurdo. Diz que "a conduta tendente a impedir o estrito e rigoroso cumprimento do que dispõe a Constituição do Brasil consubstancia desabrida confissão de prática de crime de responsabilidade pela Presidente da República". "Cai como uma luva, no caso, a afirmação de que quem não deve não teme. Apenas o delinquente esbraveja, grita, buscando encontrar apoio para evitar que a Constituição seja rigorosamente observada, escusando-se a submeter-se a julgamento perante o Senado Federal". Desafio-o publicamente a nominar esta conduta. Em que se tendeu a " impedir o estrito e rigoroso cumprimento do que dispõe a Constituição do Brasil"? Diga-o, caso contrário será uma velhacaria, expediente de quem afirma generalidades por ser incapaz de apontar objetividades. Do restante, "quem não deve não teme" é expressão que vai à conta do humor no Brasil. Quem deve é que não teme, mostraram a Operação Zelotes e centenas de autuações a gente poderosa, daquelas que têm os nomes na lista do HSBC - ouviu o senhor falar dela? - que devem, devem muito e não temem nada. Vá para a subida de um morro, o pé de uma favela para ver como funciona o "quem não deve não teme" por lá. Se o pedreiro Amarildo estivesse neste mundo poderia contar-lhe. Eu sou um homem honesto, ex-Excelência, e se for vítima de uma injustiça, vou esbravejar e gritar e só a tapa e arma me porão numa condução coercitiva ilegítima, sem que eu antes tenha sido convidado a dar explicações. O senhor sabe, como ex-preso político, a inferioridade de forças de um homem ou de uma mulher honrados, submetidos a violências "em nome da lei", que só lhe deixam a insubmissão como forma de afirmar sua dignidade. Mas não creia o senhor que minha insolência seja dirigida ao antigo ocupante de cargo de ministro do Supremo por estes que o senhor supõe hoje criminosos. Não, vai ao mais atual, anunciado de boca própria ao portal UOL. Àquele que se disse, espontaneamente, ao jornalista Fernando Rodrigues, "um soldado" de Aécio Neves. E que, o tendo dito, não de peja de dar, como ex-ministro e jurista, opiniões que satisfaçam ao seu general. Não o ofendo, senhor. São seus atos e palavras que ofendem o que o senhor foi, a serviço daquilo que o senhor se tornou.
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